Babel

As palavras são uma fonte de mal-entendidos, já dizia o Príncipe de Exupéry. Façamos delas, então, os alicerces da Babel. Talvez cheguemos ao milagre das línguas, ao pentecostes. Words, words, words.

sábado, 23 de abril de 2011

Salve, Jorge! Salve, Shakespeare!



Hoje a Inglaterra comemora São Jorge, seu padroeiro, e William Shakespeare, seu maior escritor. Ao fazer esta postagem, interrompo a escrita de minha dissertação para fazer menção a esse autor cuja leitura tanta satisfação me traz. O assunto de minha pesquisa também não poderia calhar melhor, as relações entre Shakespeare e Machado de Assis, outro grande leitor do Bardo.

Não intento discorrer sobre a genialidade do poeta de Stratford ou a qualidade de suas peças. Para isso, há grandes críticos, cujas algumas referências cito no final desta postagem. O objetivo é de fazer um reconhecimento ao dramaturgo inglês, que tem sido um bom amigo há certo tempo. Li Shakespeare pela primeira vez aos 14 anos. Assisti ao filme Romeu e Julieta, de Franco Zeffirelli, na década de 80, em um Supercine, da TV Globo, creio eu. Curioso, comprei alguns livros: Romeu e Julieta, A tempestade e Rei Lear (desta última entendi pouca coisa na época). Eram traduções de Carlos Alberto Nunes para o português. Depois de certo tempo, abandonei esses livros.

Com mais maturidade, retomei minhas leituras shakespearianas, e elas me trouxeram muita aprendizagem. Aos poucos, o número de volumes sobre a obra e a vida do dramaturgo inglês foi crescendo. Shakespeare fez com que eu lesse Goethe, Victor Hugo, Voltaire e Machado de Assis. Fez com que me interessasse por política, história, filosofia, arte. Fez com que eu lesse o mundo e as pessoas de maneira diferente, quiçá mais próxima do que realmente são. Totus mundus agit histrionem. Passei a entender melhor, por causa dele, a literatura e o valor da leitura. Devido a ele, sou mais atento à arte do cinema. Para lê-lo mais detidamente, tento compreender cada vez mais o inglês (seria mais fácil se ele fosse francófono, diminuiria muito meus problemas).

Neste tempo de Semana Santa, lembro uma frase de Machado de Assis ao afirmar que, na ceia da arte, Shakespeare nos dá de comer sua carne e de beber seu sangue. O livro de Shakespeare é um evangelho. Suas personagens revelam-nos e constroem-nos. Sua figura tornou-se deus de uma religião secular, e quem o conhece aquieta-se e, como se desfilasse contas de rosário, murmura, conforme fez Jorge Luis Borges em famosa conferência, o santo nome: Shakespeare. Pode-se viver muito bem sem conhecer o dramaturgo inglês, mas a vida torna-se mais rica se o lermos. A arte é uma das poucas justificativas existentes para a vida.

Apesar de hoje ser um leitor bem mais proficiente do teatro shakespeariano, ainda sinto o prazer que essa leitura me proporcionava quando mais jovem. Muitas vezes perdemos esse gosto quando estudamos demais uma obra. Atualmente, Shakespeare continua sendo um bom amigo para mim. Seu aniversário – data convencional, pois não se sabe em que dia ele nasceu, visto que o primeiro documento oficial existente hoje é sua certidão de batismo – é um dia assinalado. Para marcá-lo aqui, cito Machado, mais que leitor de Shakespeare:

Tudo são aniversários. Que é hoje senão o dia aniversário natalício de Shakespeare? Respiremos, amigos; a poesia é um ar eternamente respirável. Miremos este grande homem. [...] E acabemos aqui; acabemos com ele mesmo, que acabaremos bem. All is well trat ends well.




                 
Deus, qui nos beati Georgii Martyris tui meritis et intercessione lætificas : concede propitius ; ut, quia tua per eum beneficia poscimus, dono tuæ gratiæ consequamur. Per Dominun nostrum.


Sugiro, para os iniciantes, as obras de Shakespeare editadas em português pela L&PM Pocket. As traduções são de qualidade. Os textos Falando de Shakespeare e Por que ler Shakespeare?, ambos de Bárbara Heliodora, são esclarecedores para quem começa a entrar no mundo shakespeariano. 
Para o leitor proficiente em inglês, sugiro as edições Arden. O volumoso Shakespeare: a invençao do humano, de Harold Bloom, é um importante estudo para quem já conhece o Bardo do Avon.
Na próxima terça-feira, dia do batismo de Shakespeare, elencarei uma bibliografia mais extensa.




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