Babel

As palavras são uma fonte de mal-entendidos, já dizia o Príncipe de Exupéry. Façamos delas, então, os alicerces da Babel. Talvez cheguemos ao milagre das línguas, ao pentecostes. Words, words, words.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Eleição, aborto e Nossa Senhora Aparecida.

The Madonna of Port Lligat, de Salvador Dali

 

Nas últimas semanas, recebi alguns e-mails sobre a temática do aborto, que tem movimentado, algumas vezes de forma leviana, a campanha dos candidatos à Presidência da República. O aborto, certamente, não é um assunto que se possa esgotar em uma postagem de blog. No entanto, gostaria de levantar algumas considerações sobre a maneira como este tema vem sendo abordado ultimamente.

Uma delas refere-se ao uso eleitoreiro desse assunto. Por tocar na moral individual e religiosa de muitos, aproveitaram-se disso como estratégia de obter votos; assim, o debate tornou-se inexistente e surgiram várias manifestações radicais e injustas. Para esses manifestantes, só há dois barcos: o daqueles que apoiam o aborto e o dos outros que não o apoiam. Não há outro posicionamento a ser tomado. Políticos de renome e autoridades eclesiásticas foram taxativas em condenar o aborto, alguns com claros propósitos eleitoreiros. Houve quem dissesse – da parte de deus ou do diabo, não sei – que aquele que sustivesse a defesa da legalização do aborto estaria no inferno. Dessa forma, demonizou-se uma candidata à Presidência da República. Concordo com o presidente da Cáritas Nacional, bispo Demetrio Valentini, de Jales (SP), ao afirmar que tanto o aborto como o casamento gay não devem ser  discutidos no momento de uma disputa eleitoral, pois são temas que precisam ser tratados com serenidade, não durante o calor das campanhas políticas. Estamos, porém, vendo o contrário.

Pessoalmente, sou contra o aborto. Mas só afirmar isso não muda o fato de uma mulher abortar a cada 33 segundos no Brasil, conforme o blog do Noblat desta segunda-feira. Sou contra o aborto, mas só dizer isso não muda o fato de o aborto ser, de acordo com o Ministério da Saúde, responsável por 15% das mortes maternas, sendo a quarta causa de mortalidade de mães no Brasil. Sou contra o aborto, mas essa convicção não faz com que as mulheres que abortaram tenham uma assistência digna nos hospitais para controlar as complicações de um aborto clandestino.  Sou contra o aborto, mas só dizer não é suficiente para defender a vida da criança e da mãe. Por isso a necessidade de debater o assunto.

Se realmente defendemos a criança antes do nascimento, devemos procurar garantir que ela tenha uma vida digna após esse nascimento. Os inúmeros casos de exploração do trabalho infantil, de abuso sexual de crianças, de abandono de menores nas ruas de nosso país comprovam que só ser contra o aborto não é causa de haver uma melhor vida para a população infanto-juvenil de nosso Brasil. Aquelas que são a favor do aborto – muitas vezes utilizando o argumento de que são donas de seus corpos (argumento questionável em muitos pontos) – parecem não ter um posicionamento diferente. Assim, penso ser importante, nesse período eleitoral, observar quais os planos dos candidatos sobre a saúde pública, a educação das crianças, o combate à miséria e às drogas, a geração de emprego, a segurança pública e tantos outros aspectos que efetivamente fazem com que haja respeito à vida e à dignidade de todos, tanto daqueles que nasceram quanto de quem está por vir.

No dia 12 passado, Dia de Nossa Senhora Aparecida, dois candidatos à Presidência de nosso país estiveram na Basílica da Padroeira do Brasil, ambos com o intento de mostrar que condenam a prática de abortar. Desejo que aquele que vencer as eleições – independentemente de qual seja – não se contente apenas em afirmar que é contra o aborto, mas em criar condições que possam garantir uma vida digna para as crianças deste país.

 


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia do Professor: Vitória

Vitória de Samotrácia

Não lembro o rosto de minha primeira mestra, recordo somente seu nome: Vitória. Nome simbólico, visto nossas vitórias serem, de uma forma ou de outra, resultantes do que aprendemos de alguém que era ou se comportou como um professor.
Eu era criança, já faz certo tempo, não me recordo, então, de todas aquelas que a seguiram. De algumas me vem o nome, de outras, o semblante. Assim, quero demonstrar aqui, por meio de Vitória, um reconhecimento aos meus mestres. Gostaria de agradecer, principalmente, àquelas que me deram algo muito valioso: a habilidade de ler. Entre todas as coisas que me ensinaram, ler é uma das mais preciosas. Não me imagino sem essa capacidade que tantas vezes me alegrou, me fez pensar, me conscientizou sobre quem sou e sobre o que posso construir. Sem leitura, certamente, minha existência seria paralítica. Não posso prescindir da leitura. Não posso viver pela metade.
Não gostaria de passar este dia sem homenagear aqueles e aquelas que, certamente, contribuíram para que minha leitura de mundo se ampliasse e minha formação como pessoa e como profissional fosse vitoriosa. Reconheço, especialmente, o valor dessas pessoas que, já na neblina de meu esquecimento, me deram vida na minha vida, pois deram-me a leitura: minhas primeiras professoras.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dia da Criança: Meninos carvoeiros



Hoje, Dia da Criança, relembrei um fato que presenciei há certo tempo. Vou chamar esse relato de Meninos carvoeiros, pois me lembra esse poema de Manuel Bandeira.

Saí de casa para trabalhar, era uma manhã de muita luz. Observei que a casa do outro lado da rua apresentava traços de uma festa de aniversário: enfeites pendurados por todo lado, papéis de docinhos e guardanapos espalhados pelo chão.
Quatro garotinhos franzinos se aproximavam do ponto de ônibus onde eu estava. Eles arrastavam a carcaça de uma geladeira. Dessas que os catadores de lixo usam como carroça.  Os meninos eram, também eles, catadores.
Apesar de ser manhã, os pingos de gente já estavam bastante sujos e cansados. Talvez trabalhassem desde a madrugada. Ao passarem diante da casa, estancaram. Conversaram entre si e um deles, afoito, dirigiu-se para a frente da casa – o muro era baixo e não possuía portão – e bateu palmas. Logo uma senhora gorda apareceu enxugando as mãos. Não ouvi o que disseram, mas vi quando a mulher riu e balançou afirmativamente a cabeça.
Nesse momento, o menino voltou correndo, falou algo para os outros e, animados, todos correram a tirar as bexigas que estavam nas paredes e nas árvores próximas da casa. Eles fizeram isso muito rapidamente. Alguns balões estavam presos, inclusive, muito alto! Todas as bolas de encher foram amarradas na velha carroça de lata.  
Os quatro garotinhos franzinos, rindo e saltitando, continuaram sua lida – que não é de gente pequena – puxando um velho carro enfeitado de grandes bolas coloridas. Eles estavam felizes, eles eram crianças.

Ofereço esta postagem a Charles Dickens, por seu Oliver Twist.


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Eleições 2010 e minha caixa de e-mail.




Essas eleições, certamente, não são as primeiras em que a Internet foi usada para divulgar candidaturas e programas de governo. Em época eleitoral, os e-mails também se tornam “e-meios” de propaganda política, e minha caixa de entrada recebeu muitas delas. E um fato me deixou intrigado: nunca recebi tantas mensagens contra uma mesma pessoa!
Percebi que essas mensagens foram enviadas para vários outros internautas. Pergunto-me se todos eles leram, verificaram se as informações estavam corretas e, só então, resolveram passá-las adiante. Infelizmente, acredito que não. Com o segundo turno se aproximando, provavelmente se acirrará essa prática de “viralizar” informações nem sempre corretas. Acredito que, devido à importância de escolher um líder político, devamos ter atenção com dados desencontrados, argumentações contraditórias e ataques pessoais a quem se candidata ao cargo público. Confirmar, se possível, a veracidade das informações é uma prática relevante.
Vou ficar mais atento a minha caixa de mensagem, talvez assim eu escolha melhor em quem vou votar no próximo pleito.