Babel

As palavras são uma fonte de mal-entendidos, já dizia o Príncipe de Exupéry. Façamos delas, então, os alicerces da Babel. Talvez cheguemos ao milagre das línguas, ao pentecostes. Words, words, words.

sábado, 27 de novembro de 2010

Uma velha nova história (Para Alex e Jen)


Recentemente, reli alguns versos de Shakespeare, da belíssima obra Sonho de uma noite de verão. Eles abordam as dificuldades que sempre acompanham o verdadeiro amor. As linhas estão reproduzidas abaixo, na tradução de Carlos Alberto Nunes.

Lisandro – Oh Deus! Por tudo quanto tenho lido
ou das lendas e histórias escutado,
em tempo algum teve um tranquilo curso
o verdadeiro amor. Ou era grande
do sangue a diferença... [...]
... ou mui disparatadas as idades... [...]
... ou tudo os pais, sozinhos, decidiam... [...]
... ou quando havia
simpatia na escolha, a guerra, as doenças,
e a morte, conjuradas, o assaltavam.

Lisandro fala de diferença de sangue e de idade como empecilhos ao amor. Além disso, cita guerra, morte e doença. Obviamente, passados tantos anos da escritura da peça - e do tempo da narrativa -, muitos desses obstáculos ao amor perderam sua força. Em nosso mundo ocidental, se os amantes decidem ficar juntos, comumente a família não se opõe. Na maioria das vezes, nem as diferenças de ordem econômica ou etária, nem mesmo a semelhança entre os sexos são capazes de separar o par apaixonado. Na época de Internet e de tantos meios de transportes eficientes, a distância mesmo teve enfraquecido o poder de diluir o amor entre duas pessoas.

Na última terça-feira, Alexandre, irmão de minha esposa, foi embora para outro país. Depois de um namoro que teve de enfrentar o obstáculo imposto por quilômetros de distância que o separavam de sua amada, Jen, eles agora estão juntos. Porém, se o amor não cansa, ele também não descansa, como diz o belo verso de João da Cruz. Os obstáculos persistem, menos intensos, mas nem por isso menos corrosivos. A rotina, a impaciência, a incompreensão, a dificuldade de fazer pequenos sacrifícios pelo outro, a falta de diálogo, tudo pode acabar com o amor. Tudo isso age como o vento que, lentamente, afasta uma duna de outra. Se isso acontece, o amor, como a casa construída sobre a areia, arruina-se.

O amor não descansa, ele enfrenta o que for necessário para sobreviver. O enfrentar exige ações de alteridade: cuidar do outro, dialogar com o outro, compreender o outro, sacrificar-se pelo outro, não se ensimesmar. Assim, o amor será bem mais que um belo sentimento, ele será uma realidade concreta como uma rocha. A areia do tempo passa, mas ele será protagonista de uma história sempre renovada.

Alexandre e Jen, quando vocês se casarem no próximo dia 11, estarão continuando uma história que já remonta há muitos séculos, mas que, para vocês, estará apenas começando. Que tenham muitas alegrias.

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