Hoje, a escola Tasso da Silveira abriu
novamente suas portas para receber os alunos e reiniciar suas atividades. Depois
do massacre ocorrido em suas dependências, que resultou na morte de 12
estudantes no último dia 7, reacendeu-se a discussão sobre o bullying. Costuma-se ligar o bullying somente a agressões entre
alunos, mas há um agente importante para a propagação dessa violência: o
professor.
Conheço os inúmeros problemas que
envolvem o exercício da profissão, pois já trabalhei em escola particular e
pública. Mesmo que muitos pedagogos e especialistas em educação afirmem que a
responsabilidade maior do ensino e da aprendizagem cabe ao profissional do
magistério, não se podem negar as interferências de inúmeros obstáculos ao
professor na sala de aula: criminalidade, escassez de material, ausência de
comprometimento dos pais e de outros profissionais da própria escola. No
entanto, acredito que, apesar das dificuldades, não nos cabe promover a discrininação dos alunos.
Não aludo a certos momentos de
descontrole entre professores e alunos, cujos motivos talvez expliquem muitos
conflitos em sala de aula, ainda que nem sempre os justifiquem. Refiro-me a
ideias proferidas por professores – que são formadores de opinião – que atentam
contra a dignidade de muitos estudantes. Em minha postagem anterior, mencionei
o resultado de uma pesquisa que aferiu o preconceito na sala de aula.
Constatou-se que grande parte dos professores manifesta-se de forma discriminatória
contra certos grupos de alunos, principalmente os deficientes físicos e
mentais, os negros, os homoafetivos e os pobres. Essa situação é seriíssima. Se
o professor endossa uma visão preconceituosa, os alunos sentem-se confiantes
para continuar a cometer bullying
contra outros estudantes, o que nem sempre resulta em agressões físicas, mas
sempre acaba com feridas na autoestima, na melhor das hipóteses.
Já soube de professores que se
negaram a receber em suas salas de aula alunos com deficiência física e reagiram
mal à presença de cegos na classe. Tive conhecimento de um professor de
biologia que sugeriu, para acabar com a AIDS, juntar todos os aidéticos e
matá-los. Na sala dele havia uma aluna que nasceu com o vírus HIV. A juíza
baiana Luislinda Valois, 66 anos, conta que, criança, estava alegre com o
compasso de madeira que seu pai havia comprado com certa dificuldade. Quando o
professor viu que o material não era de plástico, disse: “Você não devia estar
estudando, e sim cozinhando feijoada para branca!”. Ainda hoje, 58 anos depois,
a juíza ainda se emociona ao lembrar a cena. Esses casos são apenas alguns
exemplos de vários, basta uma pequena pesquisa em sites sérios da Internet
para verificar a gravidade do problema. Essas situações podem estar acontecendo
em nossas salas de aula, ou poderão ocorrer em outras, com nossos filhos,
sobrinhos ou outras pessoas a quem amamos.
A escola não pode se esquivar de
seu papel de promotora de valores humanos, cidadania e tolerância. Não convêm,
em uma instituição em que a pluralidade é constante, profissionais que não sabem
discernir admoestação de ofensa, preconceito e discriminação. Se a escola não for
tolerante, quando haverá tolerância em nossa sociedade?
Termino esta postagem mencionando
o fato de que vizinhos pintaram de branco o muro pichado com os dizeres "assassino
e covarde" da casa da família de Wellington Oliveira, o assassino das
crianças da escola do Realengo. Os portões, que haviam sido arrombados, foram
fechados com cartolina branca, e colocaram em frente à casa um cartaz pedindo
paz. Muitas marcas deixadas pelo professor são indeléveis. Elas nunca sumirão
totalmente, mesmo que diversas pessoas de boa vontade tentem apagá-las, como fizeram
os vizinhos de Wellington.
Realmente é um absurdo, que em pleno século XXI ainda exista tanto preconceito, e não é apenas responsabilidade das escolas formar pessoas educadas e que saibam discernir o certo do errado, mas também das famílias buscar resgatar valores que hoje estão esquecidos!
ResponderExcluirConcordo com o que foi dito acima.
ResponderExcluirComo aluna, já vi muitas mostras de preconceito entre os alunos e entre professores e alunos.
O profissional da educação, inserido em um contexto de pluralidade como foi exposto anteriormente e comprometido com a passagem de valores aos seus alunos, deveria ser um dos primeiros a estimular a tolerância e o respeito e não o contrário.