Hoje a Inglaterra comemora São Jorge, seu padroeiro, e
William Shakespeare, seu maior escritor. Ao fazer esta postagem, interrompo a
escrita de minha dissertação para fazer menção a esse autor cuja
leitura tanta satisfação me traz. O assunto de minha pesquisa também não
poderia calhar melhor, as relações entre Shakespeare e Machado de Assis, outro
grande leitor do Bardo.
Não intento discorrer sobre a genialidade do poeta de Stratford
ou a qualidade de suas peças. Para isso, há grandes críticos, cujas algumas referências
cito no final desta postagem. O objetivo é de fazer um reconhecimento ao dramaturgo
inglês, que tem sido um bom amigo há certo tempo. Li Shakespeare pela primeira
vez aos 14 anos. Assisti ao filme Romeu e
Julieta, de Franco Zeffirelli, na década de 80, em um Supercine, da TV
Globo, creio eu. Curioso, comprei alguns livros: Romeu e Julieta, A tempestade
e Rei Lear (desta última entendi
pouca coisa na época). Eram traduções de Carlos Alberto Nunes para o português.
Depois de certo tempo, abandonei esses livros.
Com mais maturidade, retomei minhas leituras
shakespearianas, e elas me trouxeram muita aprendizagem. Aos poucos, o número
de volumes sobre a obra e a vida do dramaturgo inglês foi crescendo. Shakespeare
fez com que eu lesse Goethe, Victor Hugo, Voltaire e Machado de Assis. Fez com
que me interessasse por política, história, filosofia, arte. Fez com que eu
lesse o mundo e as pessoas de maneira diferente, quiçá mais próxima do que realmente
são. Totus mundus agit histrionem. Passei
a entender melhor, por causa dele, a literatura e o valor da leitura. Devido a
ele, sou mais atento à arte do cinema. Para lê-lo mais detidamente, tento compreender cada vez mais o
inglês (seria mais fácil se ele fosse francófono, diminuiria muito meus
problemas).
Neste tempo de Semana Santa, lembro uma frase de Machado de
Assis ao afirmar que, na ceia da arte, Shakespeare nos dá de comer sua carne e
de beber seu sangue. O livro de Shakespeare é um evangelho. Suas personagens revelam-nos
e constroem-nos. Sua figura tornou-se deus de uma religião secular, e quem o
conhece aquieta-se e, como se desfilasse contas de rosário, murmura, conforme fez
Jorge Luis Borges em famosa conferência, o santo nome: Shakespeare. Pode-se
viver muito bem sem conhecer o dramaturgo inglês, mas a vida torna-se mais rica
se o lermos. A arte é uma das poucas justificativas existentes para a vida.
Apesar de hoje ser um leitor bem mais proficiente do teatro
shakespeariano, ainda sinto o prazer que essa leitura me proporcionava quando
mais jovem. Muitas vezes perdemos esse gosto quando estudamos demais uma obra.
Atualmente, Shakespeare continua sendo um bom amigo para mim. Seu aniversário –
data convencional, pois não se sabe em que dia ele nasceu, visto que o primeiro
documento oficial existente hoje é sua certidão de batismo – é um dia
assinalado. Para marcá-lo aqui, cito Machado, mais que leitor de Shakespeare:
Tudo são aniversários. Que é hoje senão o dia aniversário natalício de
Shakespeare? Respiremos, amigos; a poesia é um ar eternamente respirável.
Miremos este grande homem. [...] E acabemos aqui; acabemos com ele mesmo, que
acabaremos bem. All is well trat ends well.
Deus, qui nos beati Georgii Martyris tui meritis et intercessione lætificas :
concede propitius ; ut, quia tua per eum beneficia poscimus, dono tuæ
gratiæ consequamur. Per Dominun nostrum.
Sugiro, para os iniciantes, as obras de Shakespeare editadas
em português pela L&PM Pocket. As traduções são de qualidade. Os textos Falando de Shakespeare e Por que ler Shakespeare?, ambos de
Bárbara Heliodora, são esclarecedores para quem começa a entrar no mundo
shakespeariano.
Para o leitor proficiente em inglês, sugiro as edições Arden. O volumoso Shakespeare: a invençao do humano, de Harold Bloom, é um importante estudo para quem já conhece o Bardo do Avon.
Na próxima terça-feira, dia do batismo de Shakespeare,
elencarei uma bibliografia mais extensa.
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