Quando se fala em holocausto, normalmente lembramos o
Holocausto judeu perpetrado pelos nazistas. Vários filmes, livros e
documentários não permitem que nos esqueçamos das atrocidades cometidas contra os
hebreus. Alguns sobreviventes ou descendentes deles também estão empenhados
para não permitir que o massacre fique olvidado. Mas a história se repete, senão
com judeus, com outros grupos étnicos. Basta lembrar Ruanda, Kosovo e Camboja.
Holocausto, com maiúscula, passou a significar o genocídio
judaico. No entanto, houve, na II Guerra, perseguições a outros grupos, dentre
eles deficientes físicos e mentais, negros e gays. Hoje, a perseguição a esses grupos não é muito lembrada. São
raros os filmes, livros e documentários sobre isso. Alguém que me lê conhece
algum? Imagino que não.
A II Grande Guerra acabou; o (neo)nazismo, não ainda. As
ideias discriminatórias endossadas pelos nazistas, essas são bem mais antigas
que esse monstruoso movimente e bem mais longevas. A Voz dessas ideias que
roubam, matam e destroem não quer calar. Seus ecos se fazem escutar em muitos
lugares, inclusive naqueles que deveriam prezar pela solidariedade entre as
pessoas e respeito às diferenças.
Um desses lugares é a escola. Segundo uma pesquisa de 2009 feita pela Faculdade de Economia e
Administração da USP, o preconceito e a discriminação estão fortemente
presentes entre estudantes, pais e mães, professores, diretores e outros
funcionários das escolas brasileiras. O grupo mais discriminado é o de
deficientes, principalmente os mentais. Negros e homossexuais se seguem na
lista da discriminação. A Voz que ecoava nos ouvidos nazistas repercute em
nossas escolas, as quais, por sua vez, são espelho da sociedade
brasileira.
Outros lugares são as igrejas. Recentemente, o twitter do
deputado e pastor Marco Feliciano expunha a seguinte mensagem: “Africanos
descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato. O motivo da maldição é
polêmica. Não sejam irresponsáveis twitters rsss”. Desqualificar toda uma
população continental usando como argumento um mito como se fosse fato é
imoral. É desconsiderar toda uma história de exploração de povos por interesses
econômicos e políticos. O comentário foi de uma pessoa apenas, mas reflete o pensamento
de muitos fiéis de várias congregações que apóiam o desrespeito ao outro a
partir de teologias que ferem a dignidade alheia.
Outro lugar são as câmaras legislativas. Recentemente, houve
a polêmica envolvendo o parlamentar Jair Bolsonaro ao responder a uma pergunta
do programa humorístico “CQC” exibido no último dia 28. A cantora Preta Gil
perguntou ao deputado o que ele faria se seu filho se apaixonasse por uma negra.
A resposta, considerada racista, foi a seguinte: “ô, Preta, eu não vou discutir
promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos
foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o
teu". O deputado afirmou que se confundiu com a pergunta feita e não se
referiu aos negros em sua resposta. Desde então, Bolsonaro faz criticas a
homossexuais e elogios a ditadura militar em algumas entrevistas.
Uma manifestação em São Paulo de apoio a esse parlamentar foi
convocada na Internet. O protesto, batizado de “ato cívico”, divulgou-se em
rede sociais, como o Orkut, e no fórum “Stormfront.org”, administrado pelo
movimento neonazista “White Pride World Wide”, segundo informa o site de notícias UOL. A convocatória,
publicada por um membro denominado “Erick White”, é finalizada com os números
“14/88”, simbologia nazista que faz referência a Adolfo Hitler e ao
nacionalista norte-americano David Lane, defensor do mito (entenda-se mentira) da supremacia branca.
É a opinião de um deputado apenas, dirão alguns. Ela representa, porém, a visão
de vários eleitores que o escolheram por essas ideias. De acordo com policiais
que estiveram no local da manifestação, oito pessoas foram identificadas por
envolverem-se em atividades sob investigação, como participação violenta em
protestos racistas e homofóbicos, inclusive com artefatos explosivos.
Um colega me disse que as pessoas que concordam com essa Voz
não são muitas. Mesmo que seja assim, não deixa de ser alarmante, pois há
ideias envolvidas que produzem destruição e morte. Além disso, muitos que
reafirmam esse ideário são formadores de opinião: políticos, líderes
religiosos, jornalistas, professores. A Voz insiste em não calar. Ela não grita
sua mensagem, somente murmura seu veneno aos ouvidos. Ela vem para roubar,
matar e destruir. Em nosso país, ela não pode ter vez. Deve ser abafada, para
que a VOZque realmente importa seja ouvida, aquela que diz que Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza e com direito inviolável à vida, à liberdade, à
igualdade e à segurança.
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