No dia 29 do mês passado, o jornal O
Globo veiculou notícia com o título Conselho de Educação quer banir livro de Monteiro Lobato
das Escolas. A atitude do Conselho trouxe uma discussão sobre a temática racial na obra Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato.
Essa polêmica não é nova, para melhor discuti-la é interessante ler não somente
o livro em questão, mas também toda a produção de Lobato. Haveria ainda a
pergunta: Lobato era racista, ou a boneca Emília é a preconceituosa? O que
dizer dos romances Negrinha e O presidente negro, ambos do autor do
Sítio do Pica-Pau Amarelo, em que o negro é tratado de uma forma bem diferente
da discriminação da época? Exageros a parte, o assunto mostrou que grupos
sociais estão atentos para que incitações ao preconceito sejam evitadas.
Não quero me posicionar a favor ou contra o Conselho
Nacional de Educação (CNE), órgão responsável pela classificação dos livros
comprados pelo governo para as escolas públicas, cujo parecer desestimula a
distribuição de Caçadas de Pedrinho. Quero
aqui louvar toda ação que procure evitar o preconceito. Mesmo que a decisão do
CNE pareça exagerada e desconcertante para aqueles que desaprovam qualquer
censura, o ato revela uma certa atenção para se evitar discriminações. Em um
país onde notícias de agressões a mulheres, negros, homossexuais, moradores de
rua e outras minorias são comuns, vejo com bons olhos manifestações legais de
combate à discriminação. Ainda que o parecer do CNE seja controverso, ele
mostra, de certa maneira, que há mudanças de atitude.
Hoje, aqui na minha cidade, três rapazes de classe média
alta estão presos por atirar em um morador de rua. A vítima está hospitalizada
e já perdeu a visão de um olho devido ao tiro. A violência foi gratuita,
segundo a polícia. Em São Paulo, quatro adolescentes de classe média são acusados
de espancar três pessoas na madrugada de ontem, provavelmente por homofobia. Há
algumas semanas, uma estudante de Direito manifestou-se a favor da morte de
nordestinos que imigram para São Paulo. Esses casos revelam que há uma
necessidade enorme de o poder público não tolerar ações discriminatórias. Para quem
é homem, rico, branco, heterossexual, sulista, determinadas decisões legais e
certos direitos para minorias talvez sejam exagerados. Ninguém morre pela condição
isolada de ser homem, rico, branco, heterossexual ou sulista. Mas, em muitos
lugares do Brasil, se persegue e se mata pelo simples fato de alguém ser mulher,
pobre, negro, homossexual ou nordestino. Só conhece realmente o preconceito quem
é vítima dele ou ama a quem sofre essas agressões.
Termino esta postagem fazendo menção a uma outra em que
discorri sobre intolerância, datada de 11 de setembro deste ano. Pouco mais de
dois meses separam esses textos, gostaria muito de não ter de escrever tão amiúde
sobre essa temática. Emília sempre questionou muito. Façamos como ela, questionemos
os preconceitos e lutemos contra eles. Emília não se calava, não nos calemos também
diante da injustiça. Se ela era injusta
com Tia Nastácia, talvez isso se explique por possuir pano na cabeça. Não é o
nosso caso.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir