Recentemente, reli alguns versos
de Shakespeare, da belíssima obra Sonho
de uma noite de verão. Eles abordam as dificuldades que sempre acompanham o
verdadeiro amor. As linhas estão reproduzidas abaixo, na tradução de Carlos
Alberto Nunes.
Lisandro – Oh Deus! Por tudo quanto
tenho lido
ou das
lendas e histórias escutado,
em tempo
algum teve um tranquilo curso
o verdadeiro
amor. Ou era grande
do
sangue a diferença... [...]
... ou
mui disparatadas as idades... [...]
... ou
tudo os pais, sozinhos, decidiam... [...]
... ou
quando havia
simpatia
na escolha, a guerra, as doenças,
e a
morte, conjuradas, o assaltavam.
Lisandro fala de diferença de
sangue e de idade como empecilhos ao amor. Além disso, cita guerra, morte e
doença. Obviamente, passados tantos anos da escritura da peça - e do tempo da narrativa -, muitos desses obstáculos
ao amor perderam sua força. Em nosso mundo ocidental, se os amantes decidem ficar juntos,
comumente a família não se opõe. Na maioria das vezes, nem as diferenças de ordem econômica ou etária,
nem mesmo a semelhança entre os sexos são capazes de separar o par apaixonado.
Na época de Internet e de tantos meios de transportes eficientes, a distância
mesmo teve enfraquecido o poder de diluir o amor entre duas pessoas.
Na última terça-feira, Alexandre,
irmão de minha esposa, foi embora para outro país. Depois de um namoro que teve
de enfrentar o obstáculo imposto por quilômetros de distância que o separavam
de sua amada, Jen, eles agora estão juntos. Porém, se o amor não cansa, ele
também não descansa, como diz o belo verso de João da Cruz. Os obstáculos
persistem, menos intensos, mas nem por isso menos corrosivos. A rotina, a
impaciência, a incompreensão, a dificuldade de fazer pequenos sacrifícios pelo
outro, a falta de diálogo, tudo pode acabar com o amor. Tudo isso age como o
vento que, lentamente, afasta uma duna de outra. Se isso acontece, o amor, como
a casa construída sobre a areia, arruina-se.
O amor não descansa, ele enfrenta
o que for necessário para sobreviver. O enfrentar exige ações de alteridade: cuidar
do outro, dialogar com o outro, compreender o outro,
sacrificar-se pelo outro, não se ensimesmar. Assim, o amor será bem mais que um belo sentimento,
ele será uma realidade concreta como uma rocha. A areia do tempo passa, mas ele
será protagonista de uma história sempre renovada.
Alexandre e Jen, quando vocês se
casarem no próximo dia 11, estarão continuando uma história que já remonta há
muitos séculos, mas que, para vocês, estará apenas começando. Que tenham muitas
alegrias.