The Madonna of Port Lligat, de Salvador Dali
Nas últimas semanas, recebi alguns e-mails sobre a temática
do aborto, que tem movimentado, algumas vezes de forma leviana, a campanha dos
candidatos à Presidência da República. O aborto, certamente, não é um assunto que
se possa esgotar em uma postagem de blog. No entanto,
gostaria de levantar algumas considerações sobre a maneira como este tema vem
sendo abordado ultimamente.
Uma delas refere-se ao uso eleitoreiro desse assunto.
Por tocar na moral individual e religiosa de muitos, aproveitaram-se disso como
estratégia de obter votos; assim, o debate tornou-se inexistente e surgiram várias
manifestações radicais e injustas. Para esses manifestantes, só há dois barcos:
o daqueles que apoiam o aborto e o dos outros que não o apoiam. Não há outro posicionamento
a ser tomado. Políticos de renome e autoridades eclesiásticas foram taxativas
em condenar o aborto, alguns com claros propósitos eleitoreiros. Houve quem
dissesse – da parte de deus ou do diabo, não sei – que aquele que sustivesse a defesa
da legalização do aborto estaria no inferno. Dessa forma, demonizou-se uma
candidata à Presidência da República. Concordo com o presidente da Cáritas
Nacional, bispo Demetrio Valentini, de Jales (SP), ao afirmar que tanto o
aborto como o casamento gay não devem ser discutidos no momento de uma disputa
eleitoral, pois são temas que precisam ser tratados com serenidade, não durante
o calor das campanhas políticas. Estamos, porém, vendo o contrário.
Pessoalmente, sou contra o aborto. Mas só afirmar isso não
muda o fato de uma mulher abortar a cada 33 segundos no Brasil, conforme o blog
do Noblat desta segunda-feira. Sou contra o aborto, mas só dizer isso não muda o fato de o aborto ser, de acordo com o Ministério da Saúde, responsável por
15% das mortes maternas, sendo a quarta causa de mortalidade de mães no Brasil.
Sou contra o aborto, mas essa convicção não faz com que as mulheres que
abortaram tenham uma assistência digna nos hospitais para controlar as complicações
de um aborto clandestino. Sou contra o
aborto, mas só dizer não é suficiente para defender a vida da criança e da mãe.
Por isso a necessidade de debater o assunto.
Se realmente defendemos a criança antes do nascimento, devemos
procurar garantir que ela tenha uma vida digna após esse nascimento. Os
inúmeros casos de exploração do trabalho infantil, de abuso sexual de crianças,
de abandono de menores nas ruas de nosso país comprovam que só ser contra o
aborto não é causa de haver uma melhor vida para a população infanto-juvenil de
nosso Brasil. Aquelas que são a favor do aborto – muitas vezes utilizando o
argumento de que são donas de seus corpos (argumento questionável em muitos
pontos) – parecem não ter um posicionamento diferente. Assim, penso ser
importante, nesse período eleitoral, observar quais os planos dos candidatos
sobre a saúde pública, a educação das crianças, o combate à miséria e às drogas,
a geração de emprego, a segurança pública e tantos outros aspectos que
efetivamente fazem com que haja respeito à vida e à dignidade de todos, tanto
daqueles que nasceram quanto de quem está por vir.
No dia 12 passado, Dia de Nossa Senhora Aparecida, dois
candidatos à Presidência de nosso país estiveram na Basílica da Padroeira do
Brasil, ambos com o intento de mostrar que condenam a prática de abortar. Desejo
que aquele que vencer as eleições – independentemente de qual seja – não se
contente apenas em afirmar que é contra o aborto, mas em criar condições que
possam garantir uma vida digna para as crianças deste país.
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Babel
As palavras são uma fonte de mal-entendidos, já dizia o Príncipe de Exupéry. Façamos delas, então, os alicerces da Babel. Talvez cheguemos ao milagre das línguas, ao pentecostes. Words, words, words.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Eleição, aborto e Nossa Senhora Aparecida.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Dia do Professor: Vitória
Vitória de Samotrácia |
Não lembro o rosto de minha
primeira mestra, recordo somente seu nome: Vitória. Nome simbólico, visto
nossas vitórias serem, de uma forma ou de outra, resultantes do que aprendemos
de alguém que era ou se comportou como um professor.
Eu era criança, já faz certo
tempo, não me recordo, então, de todas aquelas que a seguiram. De algumas me
vem o nome, de outras, o semblante. Assim, quero demonstrar aqui, por meio de
Vitória, um reconhecimento aos meus mestres. Gostaria de agradecer, principalmente,
àquelas que me deram algo muito valioso: a habilidade de ler. Entre todas as
coisas que me ensinaram, ler é uma das mais preciosas. Não me imagino sem essa capacidade
que tantas vezes me alegrou, me fez pensar, me conscientizou sobre quem sou e sobre
o que posso construir. Sem leitura, certamente, minha existência seria paralítica.
Não posso prescindir da leitura. Não posso viver pela metade.
Não gostaria de passar este dia
sem homenagear aqueles e aquelas que, certamente, contribuíram para que minha
leitura de mundo se ampliasse e minha formação como pessoa e como profissional
fosse vitoriosa. Reconheço, especialmente, o valor dessas pessoas que, já na
neblina de meu esquecimento, me deram vida na minha vida, pois deram-me a
leitura: minhas primeiras professoras.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Dia da Criança: Meninos carvoeiros
Hoje, Dia da Criança, relembrei um fato que presenciei há certo
tempo. Vou chamar esse relato de Meninos
carvoeiros, pois me lembra esse poema de Manuel Bandeira.
Saí de casa para trabalhar, era uma manhã de muita luz. Observei
que a casa do outro lado da rua apresentava traços de uma festa de aniversário:
enfeites pendurados por todo lado, papéis de docinhos e guardanapos espalhados
pelo chão.
Quatro garotinhos franzinos se aproximavam do ponto de
ônibus onde eu estava. Eles arrastavam a carcaça de uma geladeira. Dessas que
os catadores de lixo usam como carroça. Os
meninos eram, também eles, catadores.
Apesar de ser manhã, os pingos de gente já estavam bastante
sujos e cansados. Talvez trabalhassem desde a madrugada. Ao passarem diante da
casa, estancaram. Conversaram entre si e um deles, afoito, dirigiu-se para a frente
da casa – o muro era baixo e não possuía portão – e bateu palmas. Logo uma senhora
gorda apareceu enxugando as mãos. Não ouvi o que disseram, mas vi quando a mulher
riu e balançou afirmativamente a cabeça.
Nesse momento, o menino voltou correndo, falou algo para os outros
e, animados, todos correram a tirar as bexigas que estavam nas paredes e nas árvores
próximas da casa. Eles fizeram isso muito rapidamente. Alguns balões estavam presos,
inclusive, muito alto! Todas as bolas de encher foram amarradas na velha carroça
de lata.
Os quatro garotinhos franzinos, rindo e saltitando,
continuaram sua lida – que não é de gente pequena – puxando um velho carro
enfeitado de grandes bolas coloridas. Eles estavam felizes, eles eram crianças.
Ofereço esta postagem a Charles Dickens, por seu Oliver Twist.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Eleições 2010 e minha caixa de e-mail.
Essas eleições, certamente, não são as primeiras em
que a Internet foi usada para divulgar candidaturas e programas de governo. Em época
eleitoral, os e-mails também se
tornam “e-meios” de propaganda política, e minha caixa de entrada recebeu
muitas delas. E um fato me deixou intrigado: nunca recebi tantas mensagens contra
uma mesma pessoa!
Percebi que essas mensagens foram enviadas para vários
outros internautas. Pergunto-me se todos eles leram, verificaram se as informações
estavam corretas e, só então, resolveram passá-las adiante. Infelizmente,
acredito que não. Com o segundo turno se aproximando, provavelmente se acirrará
essa prática de “viralizar” informações nem sempre corretas. Acredito que,
devido à importância de escolher um líder político, devamos ter atenção com dados
desencontrados, argumentações contraditórias e ataques pessoais a quem se
candidata ao cargo público. Confirmar, se possível, a veracidade das
informações é uma prática relevante.
Vou ficar mais atento
a minha caixa de mensagem, talvez assim eu escolha melhor em quem vou votar no
próximo pleito.
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