Há pouco mais de quatro meses, não atualizo este blogue. Houve
muitas situações que me dificultaram a escrita de postagens. O mestrado foi,
talvez, o maior impedimento. Mas o curso chegou ao fim, como você pode notar na
publicação anterior. Hoje, retomo (ou pelo menos tento retomar) minhas atualizações.
Hoje, Dia do Livro, Dia de Shakespeare, Dia de São Jorge. Salve!
Hoje é Dia Mundial do Livro. Normalmente, quando fazem
propagandas e campanhas de incentivo à leitura, exibe-se o ler como diversão e
porta de escape para outros mundos. Detesto essas propagandas, pois elas
escondem o que realmente é importante na leitura. Se devemos ler por diversão,
melhor sair com gente agradável, ir à praia ver pessoas bonitas, namorar (com
todos os etcéteras que lhe são inerentes), além de inúmeras outras atividades.
Se devemos ler porque precisamos fugir (de quê? de quem?), álcool e drogas –
segundo me dizem – é mais eficiente, ainda que muito perigoso.
Mesmo que os textos literários, ou não, possam nos divertir
e servir de escape, mais formidável que isso é a capacidade que eles têm de nos
fazer conhecer melhor o mundo, o outro e a nós mesmos. A leitura nos abre a uma experiência de alteridade. Ao
ler, assumimos um universo que não é o nosso. Ler é sentir pessoalmente –
durante o tempo de leitura – as impressões, as sensações, as imposições e as
ideias que transitam através do texto. A leitura nos faz compreender o outro. Assim,
ler dá-nos uma consciência vasta, ajuda-nos a nos livrar dos preconceitos, já
que o conhecimento afasta toda forma de ignorância, e a discriminação é umas
das maiores. Além disso, nas palavras do crítico Harold Bloom, em Como e por que ler, buscamos na leitura
algo que nos diga respeito e possa ser por nós usado para refletir e avaliar. Lemos
Shakespeare, Dante, Chaucer, Cervantes, Dickens, Proust, Machado de Assis e
seus companheiros porque nos enriquecem a vida. A leitura faz com que
conheçamos melhor a nós mesmos. Por fim, parafraseando Machado e Gullar, ler
nos alivia do tédio da existência, já que viver não é suficiente.
Hoje é Dia
de Shakespeare. Celebra-se o natalício e a morte do poeta da Inglaterra. Desde
os 14 anos, interesso-me pela obra do dramaturgo inglês, e a impressão que
tenho é a de que a conheço muito pouco. Sei, porém, que lê-la e refletir sobre
ela faz-nos conhecer nossa realidade. Isso acontece porque o mundo de Shakespeare
conheceu transformações nas instituições, crenças e práticas coletivas e
individuais que dialogam fortemente com as mudanças em nossas instituições,
crenças e práticas. Não me alongarei sobre essas questões, incito a leitura do
livro O mundo fora de prumo, de José
Garcez Ghirardi, caso se queira aprofundar o tema. Em Shakespeare, percebemos a
perda do prestígio dos discursos políticos e religiosos, a redefinição dos
modos de viver os afetos individuais e a busca por novos valores a partir dos
quais se busca compreender e guiar a existência e os sofrimentos e alegrias
inerentes a ela. Em nosso século, essas são praticamente as mesmas percepções. Não
é sem razão que os pensadores de nosso mundo fronteiriço entre o moderno e o
pós-moderno leram e interpretaram Shakespeare para melhor entender a pessoa
humana; por exemplo: Freud, Lacan, Marx, Nietzsche. Eles alargaram a visão de nosso mundo, deles mesmos e de nós,
humanidade, a partir da leitura shakespeariana, que não foi fuga nem
brincadeira.
Deus, qui nos beati Georgii Martyris tui meritis et intercessione lætificas :
concede propitius ; ut, quia tua per eum beneficia poscimus, dono tuæ
gratiæ consequamur. Per Dominun nostrum.
Hoje é Dia de São Jorge. Contam as lendas que Jorge matou um dragão que
apavorava uma cidade. Ele desejou a extinção da fera e, com sua lança, alcançou
o intento. Não é sem sentido que, no Dia de São Jorge, padroeiro da Inglaterra,
também se celebre o nascimento e a morte de William Shakespeare. Will.I.am
Shake.Speare, isto é, Eu sou o desejo de brandir a lança. Brandir a lança
contra o desconhecimento e alargar a visão para a ciência do que é humano deve
ser a meta e o resultado de nossas leituras.
Salve, Jorge!